Nuvem de Tags

Estou doente eu sei.
Eu entendo que isso é uma doença.
Parece que algo comeu meu coração,
aos poucos.
Não consigo mais ver as cores como antigamente.
É tudo negro.
Está tudo morto.
Foi um prazer te conhecer,
mas eu preciso ir.
Essa maldita sombra tirou tudo de mim.
Devorou meus sonhos e minha vontade de viver.
Como eu gostaria de encher os pulmões de ar novamente.
E sentir a vida penetrando neles novamente.
Mas tudo que eu sinto é dor no peito.
Espero sinceramente que Deus me perdoe caso eu não consiga aguentar.
Deve ter um lugar melhor para os que desistem.
Sim, eu acredito que há um lugar melhor do que este, além da muralha, para os que desistem.
Só que eles dizem que não.
Eles dizem isso porque têm medo de que as pessoas desistam em massa.
E o mundo fique vazio.
E as covas cheias.
Eu entendo que isto é uma doença.
Mas... Até que ponto?
Este sofrimento é real.



Segure minha mão por favor.
Eu estou caindo novamente.
Me afogando.
Algo gelado aperta meu peito.
Algo frio me cerca por todos os lados.
Eles estão me esperando do outro lado do muro.
Eles me chamam.
Você também pode ouvi-los?
Está chegando a hora.

Eu vou deixar você voar.
E vou correr para bem longe de você.
Vou conhecer o outro lado do mundo.
Vou descobrir a meu respeito.
Me apaixonarei mais uma vez
E vou procurar nos olhos do meu novo amor um pouco de você.
Vamos envelhecer eras.
E quando tudo deixar de fazer sentido,
Você vai me estender a sua mão.
E eu vou me lembrar de tudo.
Vai ser uma grande aventura essa viagem.

As coisas estão ficando estranhas novamente. 
Muito do que eu fui não existe mais.
Estou morrendo.
Estou esquecendo.
Estou dançando. 
Dançando uma dança macabra.
O vazio está comigo, e ele pisa em meus pés,
Enquanto o réquiem continua.
Esta é a ultima canção.
Esta é a trilha sonora do fim.
Foi divertido. Sim, foi divertido.
Mas agora que estou para morrer,
Pensando bem,
Foi doloroso...
Os anjos nos observam
Os demônios sussurram.
Que dança macabra!
Os violinos gritam no escuro.
Enquanto o resto da orquestra continua sua performance.
Impecável.
Esta é a última música.
Minha derradeira dança.
Você não pode me acompanhar mais.
A partir de agora sou somente eu e Deus.
Prometa para mim,
Que você resistirá ao peso das horas.
Que você resistirá às manhãs com o peso de todas as outras manhãs.
A música está acabando.
As cortinas estão se fechando e as luzes se apagando.
Aplausos! Aplausos!
Esse foi o meu show. Essas são as minhas cores.
Meu espetáculo chegou ao fim.
Agradeço a presença de todos.
Vou-me embora agora.

Silêncio. É o breu.











A viagem ao auto-conhecimento pode ser, deveras, arrepiante.
Descobrem-se espécies jamais vistas pelos homens pequenos.
Descobrem-se demônios terríveis vivendo dentro de nós.
Drenando as forças, os fôlegos, os suspiros.
E depois de ver seus piores monstros face a face
Você se perguntará "Quem sou seu? O que é realidade?
Perdido na sua própria escuridão,
Vai questionar-se se não foi uma boa pessoa.
Se é merecedor do  paraíso.
Vai enlouquecer, tentar acabar consigo mesmo.
Por ponto final nO Todo.
Zerar.
Mas se num rolar de dados,
Oh sim, num outro rolar de dados
Os números pares vierem para cima
E tudo pudesse ser diferente.
E as escolhas fossem outras
E as consequências...
É, essa viagem em direção a si é mesmo alucinante.
Sábios são os que voltam de lá sãos.
Sãos?
De verdade?
Não, algo muda no processo.
Eles voltam ocos.
Mas alguns voltam iluminados.
Oh meu Deus! Estou com medo!
Acho que dessa vez eu não escapo.
Está vindo novamente. Rapidamente.
Aquela loucura. Aquele desespero.
Aquele frio na alma.
Não vou aguentar tudo de novo...
Aos meus, os que ficam, minhas sinceras desculpas.
Mas eu acho que irei para um lugar melhor.
Precisa existir um lugar longe de toda esta dor.
Não posso mais aguentar isso.
Para os amigos, obrigado pelos sorrisos. Foram sinceros.
Eu me diverti bastante com vocês.
Tenho certeza que estarei sempre ao seu lado.
Mas agora eu estou doente.
Sei que isso é uma doença.
Mas é uma doença sem cura. Uma doença na alma.
Eu tentei de tudo, eu juro.
Tentei de todas as formas não ser pego por essa escuridão.
Mas seus tentáculos são muito fortes.
E de novo eu caio em desgraça e agonia.
Não posso mais viver aqui. Não posso.
Eu sempre quis que as pessoas vissem o mundo com meus olhos.
Mas pensando bem, não é uma boa ideia.
Só tem tristeza agora.
Não poderia fazer isso.
Por favor não chorem por mim.
Estou em paz agora.
Rezem por mim amigos. 
Se tudo der certo, eu estarei ao lado de vocês.
Para sempre.



Doença, Loucura e Morte sobrevoam minha família.
Uma voz baixa pergunta: "Quem será o próximo?"
Agora é a minha vez. Eu sou o dono do espetáculo.
É isso que acontece quando você chega muito perto das grades.
A vida é uma gaiola, meu amigo.
Uma gaiola elétrica.
Se você se afastar muito do centro, recebe uma descarga.
Pra voltar à realidade.
Pra voltar à dormir.


<hh
Era tudo tão colorido.
Eu podia contar comigo mesmo.
Mas agora... Agora meu mundo está doente.
Não enxergo mais as cores.
É tudo preto e branco.
Essa é uma doença que come nossos sonhos.
E ela devorou os meus.
No gelado subsisto. No frio permaneço vivo.
A loucura está vindo novamente.
Tenho certeza que estou ficando louco novamente.
Mas eu não voltarei para a cova dos leões mais uma vez.
Existe uma saída. Uma opção que todos temos.
Alguns chamam de covardia. Eu chamo de coragem.


Sua Cabeça no Trilho


<hh

"Quem vai querer? Quem vai querer?
E o vendedor de ilusões ia oferecendo suas máscaras.
Confesso. Interessei-me por uma.
Por uma somente.
Aquela em que a cara pintada
disfarçava a tristeza com uma alegria inexistente."


Os Treze e o Medo da Luz





No gelado me mantenho vivo.
Contra a nevasca, continuo passo a passo
Em breve as coisas vão parar de fazer sentido.
E você se perguntará "Quem sou eu?"
Desconhecido de si
Sozinho.
Eu já experimentei o zero absoluto.
Ele deixa marcas. Ele pisa em seus sorrisos.
Ele te transforma em um robô.
É o vazio.
Como continuar nesta ventania se já não tenho meus próprios pés?
Eles nos deixam.
Correm. Como crianças assustadas.
Como continuar perante à falta de sentido?
As coisas ficaram coloridas outra vez...
Mas espere!
Existe algo oculto em toda essa chuva de cores.
Um profecia.
Algo que diz numa voz baixa e certeira:
desista!
Como se uma pegajosa teia de aranha me houvesse capturado.
E continuava:
Isso tudo acaba aqui!


Uma Floresta

Sou uma estrela orbitando um buraco negro.
Minha luz sendo sugada distorcidamente.
Eu fui um artista.
Um ator.
Tinha meu próprio espetáculo.
O mundo era meu.
Os holofotes eram meus.
Havia um fôlego no ar. Algo revigorante, estimulante.
Era tudo muito fácil.
Eu dobrava metais.
E concatenava, de modo gratuito, as mentes.
O mundo ria comigo.
Eu fui o dono do espetáculo.
Eu vi constelações se apagando.
O Senhor do tempo age sobre mim severamente agora.
Não me sinto mais vivendo na velocidade da luz
No entanto, aprendi o valor de cada hora.
É silencioso aqui. E frio.
Mas existe algo tão maravilhoso assim no horizonte?
Eu queria desejar o horizonte como antigamente.
Mas existe algo que eu perdi.
E não sei se sem relógio posso me adaptar adequadamente.
Você me conheceu de verdade.
Aquele era eu.
Gritando.
Você me calou com um beijo.
E olhou nos meus olhos. E eles se incendiaram.
Foi maravilhosamente terrível te conhecer.
Mas sem você jamais eu poderia ter visto a parcela da verdade que me cabe.
Estamos distantes agora.
Apesar de tudo, eu sobrevivo.
No frio. No silêncio sofro.
O amor acabou, isso eu consigo ver.
Mas o que vem agora?
 Existe um grande problema em poder enxergar todas as estrelas:
a gente termina vulneravelmente paralisados. 
Absortos.
É o veneno do escorpião.

Deixe-me sozinho aqui pensando.
Existe algo que eu preciso fazer.
Mas também existe uma profecia.
Algo obscuro que adormece em meu peito.
Apenas dormindo. Dormindo e rosnando.
Este é meu único medo.
Dormindo.
Como é horrível o seu rosto.
Como é maligna a sua presença.
Como corta seu olhar.

Mas eu vi o seu vazio.
Vi o seu medo.
Vi a sua energia se esvaindo.
Ele é como eu.
Mas existe algo de bom em mim.
Algo luminoso junto com toda essa treva.
Comprimido, congelando.
Mas ainda ali.


Sobre o recomeço

O prédio está despencando.
Foi lindo quando o vi pela primeira vez.
Eu era jovem. Eu tinha a força dos jovens.
Eu tinha a sede de viver.
Mas agora, agora que eu envelheci uns oitocentos anos.
Tudo me é tão diferente.
Mas eu vou voltar para o prédio.
Incerto.
Será uma luta conta o tédio.
Um remédio.
Acho que foi o único que me restou.
Mesmo agora, sendo um zumbi.
A abominável experiência elétrica.
Eu vejo as cinzas. Vejo as cinzas das pessoas.
Vejo as cinzas, os rastros, os restos.
Inclusive os mais modestos.
Os que muitas vezes detesto.
Eu vejo as marcas que as pessoas deixam.

Mas eu já sofri demais.

Vou te contar um segredo
"No fim de todas as coisas você vê uma muralha gigante"
Intransponível.
Atravessá-la? Impossível.
É realmente esta a condição humana.
Hey amigo, você tem fé?
Pois guarde com cuidado.
Aqui o vento é forte e ele pode tirá-la de você.

Eu vejo gente se debatendo no escuro.
Eles estão desesperados pra sentir.
Sentir como reis. Sentir como os artistas.
Sentir de verdade.
Eles se debatem, e gritam.
Fazem toda a macaquice.
Eles se pintam. Se drogam. Mentem para si mesmos.
Mas quando alguém no escuro acha um diamante.
Aí eles mostram sua verdadeira identidade.
Eles se destroem, se matam.
Por um pedacinho de luz.
Um fragmento.
Eu vejo gente se debatendo no escuro.
Desesperados para sentir.
Sentir o calor.


2013